Constantly looking forward to my next meal.

Minha foto
"-Can you tie a knot? - I can not knot! - You can not-knot? -Who's there? - Pooh!!! - Pooh who?"

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A Fotografia, a Vida e a Morte.




"Começou, então, a nascer a questão essencial: Reconheci-a eu?

À medida que ia vendo essas fotografias, por vezes reconhecia uma parte do seu rosto, uma certa relação entre o nariz e a testa, o movimento dos seus braços, das suas mãos. Eu só a reconhecia aos bocados, o que significa que não atingia o seu ser, e que, portanto, a perdia por completo. Não era ela, e, no entanto, não era qualquer outra pessoa. Tê-la-ia reconhecido entre milhares de outras mulheres, e, contudo, não a encontrava. Reconhecia-a diferencialmente, não essencialmente. As fotografias obrigavam-me, assim, a um trabalho doloroso; debruçado sobre a essência da sua identidade, eu debatia-me no meio de imagens parcialmente verdadeiras e, contudo, totalmente falsas. Dizer de uma foto “é quase ela!” era para mim mais doloroso do que dizer de uma outra: “não é nada ela”.

No fundo, uma foto parece-se com qualquer pessoa, excepto com quem ela representa. Porque a semelhança remete para a identidade do suspeito, coisa irrisória, puramente civil, penal até; ela apresenta-o “enquanto ele próprio”, e eu quero um sujeito “enquanto nele próprio”. A semelhança deixa-me instisfeito e como que céptico (é essa decepção triste que sinto diante de fotos vulgares da minha mãe – enquanto a única foto que me deu o deslumbramento da sua verdade foi precisamente uma foto perdida, antiga, que não se parece com ela, duma criança que eu não conheci)."